Uma notícia agitou os bastidores do futebol paulista no
final do mês de Março. A Red Bull fechou parceria com o Bragantino com o
objetivo de disputar a Série B do Brasileirão 2019. O acordo prevê que a gestão
do clube aos poucos seja transferida para a empresa, que se comprometeria em
investir 45 milhões no time, melhorar estrutura do estádio Nabi Abi Chedid e do
CT. Em troca, poderia ter seu nome vinculado ao time, tornando-se Red Bull
Bragantino.
O que ninguém esperava era o rebuliço que isso daria nas
divisões menores dentro de SP. Ninguém esconde que o objetivo da Red Bull ao
investir no futebol brasileiro era colocar sua marca em evidência na primeira
divisão, como já faz na Alemanha, com o RB Leipzig, na Áustria, com o Red Bull
Salzburg, e nos EUA, com o NY Red Bulls. O que a empresa não imaginava é o
quanto seria difícil esse caminho pela via normal. Por isso, os administradores
do Brasil buscaram a segunda via, um pouco mais fácil, porém menos ética: a
compra de um time.
Primeiro foi a investida no Oeste, ex-Itápolis, agora em
Barueri. Não deu certo. Então foram atrás do Bragantino que aceitou. Bem, se a
vaga na Série B estava garantida, a disputa do Paulistão 2020 virou um impasse.
Isso acontece porque Bragantino e Red Bull Brasil estão na
primeira divisão. E segundo as regulamentações da FIFA, equipes com o mesmo
dono não podem disputar o mesmo campeonato, por questões de conflito de
interesses que possa existir. Assim, a sugestão deixada no ar era a fusão dos
dois times, abrindo uma vaga na primeira divisão.
Eis que começa o imbróglio. Quem fica com essa vaga
restante? O terceiro da segunda divisão ou o melhor classificado entre os
rebaixados? No regulamento, a FPF colocou, que caso isso ocorresse, o 3º
colocado da A2 teria a vaga. Porém, após algumas declarações, chegou a dizer
para os clubes da A2 não contarem com essa vaga. Complicado, não?
Mas porque então eles não poderiam contar com essa vaga? Eu
explico. Os times de futebol são como empresas. Cada clube tem um CNPJ e
através dele que os clubes se inscrevem no campeonato e fazem todas as
burocracias. No caso da fusão Bragantino e Red Bull Brasil, o CNPJ utilizado
será o do Bragantino (que é o que tem direito à vaga na Série B do
Brasileirão). Já o CNPJ do Red Bull fica lá, com seu lugar na Série A1 do
Paulista. Para essa vaga ser aberta, o CNPJ teria que pedir um licenciamento do
campeonato ou a desfiliação da federação.
A vaga não seria aberta se, a Red Bull, dona do CNPJ,
vendesse a “empresa” para outro dono (surgiu boatos de que empresários de São
Caetano estariam interessados). Aí com outra direção, o clube seguiria jogando
a primeira divisão paulista. Aí caberia aos novos proprietários decidir se
mudam o nome do clube, a sede e tudo mais.
Ou não. Sim, a Red Bull pode manter os dois times e jogar
com ambos a primeira divisão paulista. Como citei no começo, basta que a
direção dos clubes não seja a mesma. Em São Paulo mesmo temos um exemplo, em
Osasco. O senhor Mário Teixeira é o dono (o cara que coloca dinheiro) nos
clubes da cidade, o Grêmio Osasco e o Audax Osasco (além do Osasco FC). E quis
o destino que ambos se cruzassem este ano na Série A3 do Paulista. Pela regra
da FIFA, isso não seria permitido. Mas analisando os papeis, foi possível, pois
cada clube tem um presidente diferente. Enquanto no Osasco Audax, quem manda é o
Vampeta, no Grêmio Osasco é Ana Paula Lopes Viana Andrade. Mas todo mundo sabe,
que quem coloca a grana é o seu Mário.
Então, no caso Red Bull Brasil e Bragantino pode acontecer a
mesma coisa. Todo mundo sabe que o dinheiro vem da Red Bull, mas os dois times
podem estar no mesmo campeonato, se tiverem como presidente ou proprietário,
pessoas diferentes. No meu ponto de vista, isso é possível, pois não ficou
claro como ficará o negócio entre os dois times. Não tá claro se a Red Bull
comprou o Bragantino (aí após a transição poderia mudar o nome e o escudo do
clube), se fez um arrendamento por tempo determinado (como aquelas empresas que
tomam conta do departamento de futebol de um clube) ou se está entrando como um
patrocinador/investidor com poder de decisão (como foi a Parmalat no Palmeiras
ou o MSI no Corinthians).
Enquanto isso não fica claro, os clubes pequenos ficam disputando
nos bastidores quem tem direito. Os times da A2 acham que a vaga é deles. Agora
o São Caetano, melhor dos rebaixados da A1, jpa acha que a vaga é dele e até
utiliza uma interpretação
de língua portuguesa para isso. E claro, tem o efeito cascata, pq se subir
3 da A2, vai ter que subir 3 da A3 e 3 da segundona. Agora se derem razão ao
São Caetano, o Nacional na A2 e o Taboão da Serra na A3 também tem o mesmo
direito.
Só por exemplo, na Itália aconteceu isso nesta temporada. A
Série B era disputada com 22 times, mas 3 vagas ficaram vazias porque clubes
faliram. Aí houve uma disputa, inclusive na justiça, de quem seriam essas
vagas. Clubes da terceira divisão pleitearam, clubes rebaixados. Alguns
chegaram a depositar o dinheiro da inscrição para ter a vaga e no fim a LEGA B
(organizadora do campeonato) decidiu fazer só com 19. E ano que vem vai ficar
com 19 e, a princípio, terá 19 na segunda divisão para sempre. Ou seja, os
clubes se deram mal.
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